Coleção Letreiros

 LETREIROS

Nome dado pelos antigos pescadores da ilha de Santa Catarina aos paredões cobertos de petróglifos encontrados nas praias e ilhas adjacentes. Os petróglifos, ou inscrições rupestres, são gravuras feitas em baixo relevo através de técnicas como picoteamento e polimento. No caso da ilha, o tipo de rocha preferencial utilizada foi o diabásio. Alguns desses letreiros podiam ser avistados do mar o que inspirava respeito por sua originalidade e mistério. 


A ILHA DE SANTA CATARINA é a porção insular do município de Florianópolis, capital do estado, localizada no sul do Brasil. Tem cerca de 500 quilômetros quadrados cobertos principalmente por mata atlântica, com grande diversidade de fauna e abundantes recursos pesqueiros, o que favoreceu a ocupação de seu território na pré-história. Foi nesse período que provavelmente as inscrições foram feitas. Sabemos que a ocupação da ilha data de 5.000 a.p (antes do presente) mas não é possível afirmar QUEM FORAM OS AUTORES desses registros. Três tradições arqueológicas foram observadas desde então: caçadores e coletores, itararé e guarani; no entanto, há uma impossibilidade de se afirmar qual, ou quais delas, os teriam gravado, pois não existem indícios na cultura material desses povos que façam referência às inscrições. Também não é possível avaliar ao certo HÁ QUANTO TEMPO foram feitas. A datação por carbono 14 baseia-se na análise de material orgânico - como ossos e restos de fogueira - o que não se aplica aos paredões rochosos.

Cientificamente também não existe um SIGNIFICADO que possa ser atribuído aos grafismos. Trata-se de uma arte eminentemente geométrica com padrões observáveis e que podem ser estudados, porém, não é possível apontar a função destes registros para os povos que os fizeram. O conjunto de petróglifos constitui um código visual partilhado pelo grupo e não são formas elementares de fácil execução. Revelam um conhecimento matemático e capacidade de representação mental que antecedia sua execução. Recursos complexos como simetria, projeção de figura em espelho, rotação e translação eram utilizados. A execução de painéis em locais de difícil acesso demandava também um esforço significativo e direcionamento da ação. No entanto, mais uma vez, não é possível deduzir qual seria a função dessas representações para aqueles que as fizeram.

Diante de tantas lacunas formou-se com o tempo uma aura de MISTÉRIO em torno das inscrições. A colonização açoriana e sua cultura popular repleta de elementos fantásticos reforçou bastante esse imaginário, construindo uma identidade cultural que faz a ilha ser conhecida hoje como A Ilha da Magia. Neste cenário surgem várias interpretações que preenchem essas lacunas e propõem significados. Estas vão desde a possível passagem de chineses pela ilha até a interação com entidades extraplanetárias envolvidas na gênese da humanidade.
Em nosso trabalho, principalmente no contato direto com o público, lidamos com essa amplitude de abordagens não como um campo de divergências, mas como um fenômeno cultural decorrente da interação da comunidade com seu próprio PATRIMÔNIO HISTÓRICO. Nesse panorama múltiplo o único consenso é a importância da PRESERVAÇÃO. Como não se pode valorizar aquilo que não se conhece, acreditamos que cada olhar que passaria despercebido por um sítio arqueológico e agora se detém curioso é mais uma contribuição para que isso aconteça.  Que cada um possa contribuir à sua maneira para que esses admiráveis registros continuem a atravessar os tempos!


INFORMAÇÕES TÉCNICAS
Todas as peças que compõem os acessórios são produzidas artesanalmente em cerâmica de alta temperatura. Utilizamos uma massa cerâmica denominada grês, que apresenta composição química similar à das rochas, conferindo maior resistência; no entanto, as peças não são inquebráveis, devendo-se EVITAR QUEDAS.
Não trabalhamos com cordões de origem animal, para maior durabilidade é recomendável não molhá-los.  Para melhor conservação também é interessante guardar os colares pendurados.
Os brincos são feitos com pinos de aço cirúrgico.

Demonstração da regulagem disponível em vídeo no canal Bem da Terra Cerâmica (Youtube).

Maiores informações: bemdaterra@hotmail.com

OBRAS DE REFERÊNCIA

“As representações rupestres no litoral de Santa Catarina”. Fabiana Comerlato. Tese (Doutorado) PUC-RS, 2005.

“Catálogo de Arte Rupestre da Ilha de Santa Catarina”. Rodrigo Simas Aguiar, 2012. Disponível em: www.scribd.com/rodrigo_simas_aguiar

“A arte rupestre no município de Florianopolis”.  Keller Lucas, Ed. Rupestre, s/d.

“Divino Gênese, as descobertas do pescador antropólogo”. Adnir Antônio Ramos. Ed. Unisul. 2018

“A rampa do Santinho, um legado Chinês na Ilha de Santa Catarina” - Fausto Guimarães. Ed. Insular. 2010.